domingo, 9 de agosto de 2009

Gripe, Tamiflu e Reflexões

A nova gripe conhecida como Gripe A e também chamada H1N1, em menos de 6 meses, alastrou-se pelo mundo de forma surpreendente. Sua letalidade parece ser igual ou até inferior a da gripe antiga, no entanto é muito perigoso aceitar, como verdade absoluta, dados que foram colhidos em tão pouco tempo. Tudo indica que este novo vírus, que é uma mescla genética de vírus da gripe suína, aviária e humana, é um vírus com taxas de transmissibilidade superior ao antigo e, o que mais preocupa neste momento, são as taxas de mortalidade entre populações jovens e sadias. Ao contrário do que acreditam ou querem acreditar os gestores da saúde no Brasil, não há como prever quem vai morrer com esta doença. No início, a doença pode ser branda, mas um entre 250 pacientes morrerá. A chance disto acontecer entre algumas populações pode até ser maior ou menor, mas qualquer um pode sucumbir diante desta nova enfermidade.

Num primeiro momento a política de combate a nova doença foi estabelecida no sentido de bloquear a entrada da gripe no Brasil. Medidas bem definidas pelo Ministério da Saúde foram tomadas. Foram monitorados aeroportos, rodoviárias e fronteiras. Como se o vírus respeitasse fronteiras! Pessoas que vinham de fora do país eram potenciais doentes. É difícil pensar que o vírus fosse encontrado num destes locais. Na maior parte das vezes não é possível identificar a fonte de contágio de uma gripe; portanto, colocar como suspeitos somente aqueles que viajaram ou tiveram contato com pacientes suspeitos ou sabidamente infectados, não foi uma boa estratégia. Naquele momento, somente os pacientes com histórico de viagens ou contato suspeito poderiam receber a medicação e, para isto acontecer, deveriam antes ser testados para H1N1. Alguns pacientes morreram sem receber a medicação, pois não preenchiam os critérios.

Enquanto não temos uma vacina eficaz contra a “SWINE FLU”, devemos nos proteger ao máximo para não adquiri-la. Lavar as mãos e policiar-se para não levá-las ao rosto, parece ser medida mais eficaz do que o uso de máscaras, que só tem valor para aqueles que necessitam respirar muito próximo dos doentes ou suspeitos. No entanto se houver o contágio, o único instrumento verdadeiramente eficaz é o OSELTAMIVIR (Tamiflu). Alguns estudos canadenses já demonstraram que há uma diminuição da mortalidade e aceleração da recuperação dos doentes, porém não há dúvida que a terapia deva ser instituída rapidamente nos primeiros 2 dias da doença, pois seu benefício é tão maior quanto mais precoce se administra a medicação. Na Inglaterra, que tem um dos melhores serviços de saúde pública do mundo, a consulta é feita on line. O paciente recebe sua receita pela internet podendo buscar seu medicamento na farmácia mais próxima sem aglomerações. Tenho inveja disto.

No Brasil o Oseltamivir teria sido retirado das farmácias por iniciativa do laboratório (ROCHE). Parece que os governantes vizinhos não acharam isto razoável e, no Uruguai, Argentina e Chile, o Tamiflu está à venda no comércio.

Segundo a orientação oficial do Governo Brasileiro, até o dia 05/08/2009, aqui no Brasil somente se devia indicar a medicação para os seguintes pacientes: 1) Crianças com menos de 2 anos, 2) Idosos com mais do que 60 anos, 3) Gestantes, 4) Imunodeprimidos, 5) Portadores de doenças crônicas e finalmente - 6) “INDIVÍDUOS COM DOENÇA RESPIRATÓRIA AGUDA GRAVE”. Quais são os critérios para gravidade??? Se o paciente morrer 10 dias depois, todos nós saberemos que se tratava de um paciente grave. Na história natural desta doença, o paciente normalmente começa apresentar dispnéia no 4º ou 5º dia de evolução (dispnéia é o grande marcador de gravidade) e o melhor momento de iniciar a medicação é, e sempre foi, até o segundo dia de evolução. No entanto, lá no início quem decidiu que não era grave foi o médico. Se o ATO MÉDICO é soberano e quem responde por ele finalmente é o MÉDICO, por que os “BUROCRATAS DA SAÚDE” acreditam que um médico deva assinar e carimbar em baixo da sua cartilha??? Falta remédio??? Vamos economizar remédio??? Gastaremos então com internações em CTIs ??? Quantas vidas perderemos???

Até o dia 31 de julho de 2009, 56 brasileiros haviam morrido em função da nova gripe. Destes, 65% encontravam-se na faixa etária entre 20 e 45 anos. Os dados do México e dos EUA já apontavam para isto e, mesmo assim, nosso Governo recomendou não dar medicações para populações jovens sem “FATORES DE RISCO” e usa como argumento o que a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda: Usar a medicação em pacientes: 1) GRAVES 2) GRUPOS DE RISCO E 3) PACIENTES COM SINTOMAS LEVES E SINAIS DE AGRAVAMENTO COMO DIFICULDADE DE RESPIRAR E DOR NO PEITO. É impressionante como um BUROCRATA tem a capacidade de confundir. Vejam bem: Como poderemos, de maneira objetiva, definir o que são os “sinais de agravamento”. Na verdade são sinais subjetivos que somente o MÉDICO, que vai assumir responsabilidade diante de uma decisão terapêutica tomada, é quem pode definir. No dia 05 de Agosto de 2009, foi noticiado na Folha de São Paulo que a OMS mudaria seu protocolo para uso do Oseltamivir. Observem que este protocolo é mais flexível que o nosso aqui no Brasil.

Muito se fala em resistência do vírus ao antiviral. Sabe-se que toda vez que iniciamos o uso de um antiviral, inicia-se um processo que tornará o vírus resistente àquele medicamento. Isto vale para qualquer antimicrobiano e nem por isso deixamos de usá-lo. Atualmente só há 4 casos de resistência do H1N1 ao Oseltamivir. Todos relacionados com uso de subdoses da medicação.

As notícias do Hemisfério Norte nos dão conta de que a GRIPE A não diminuiu o número de novos casos como se esperava para o verão. Como se sabe, esta é uma doença nova e ainda temos muito a apreender a seu respeito. De qualquer forma, permanecemos esperando que sua incidência e gravidade entre em declínio na medida que a população vai se tornando imunizada. Devemos ainda esperar um aumento de casos aqui no nosso meio nas próximas semanas, porém seria ótimo se conseguíssemos diminuir a velocidade disto, pois assim desafogaria um sistema de saúde já bastante penalizado. Medidas como suspender a volta às aulas são válidas desde que os alunos evitem aglomerados populacionais e daí por diante.

Absolutamente não vejo com bons olhos que o uso do Oseltamivir acabe aumentando a riqueza de empresas internacionais já abastadas. Sabemos que a indústria farmacêutica é uma das mais fortes do mundo e o aumento da procura só faz aumentar o preço e diminuir o poder de negociação daqueles que necessitam o remédio. No entanto, no Hospital Universitário de Santa Maria, no dia 05 de agosto de 2009, dos 9 leitos de CTI adulto disponíveis, 7 estavam ocupados por pacientes com GRIPE A suspeita ou confirmada.

Enfim, devemos lembrar que está GRIPE é diferente da gripe antiga, pois tudo indica que suas taxas de transmissibilidade são maiores e, portanto esperamos um maior número da casos, os sintomas são mais severos e duram mais, e a mortalidade em jovens está sendo bem maior do que se espera para qualquer outra doença respiratória. Espero que, ao ser publicado, este texto já esteja ultrapassado e, que nossos Gestores da Saúde já tenham mudado sua conduta, não só diante desta nova doença, mas também diante da SAÚDE como um todo.
Dr Reinaldo Agne Ritzel, Santa Maria - RS

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